Roberto de Sousa Causo -- Escrever com o Coração

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A Corrida do Rinoceronte -- o primeiro romance de Roberto de Sousa Causo
"A Corrida do Rinoceronte" é uma fantasia contemporânea sobre um brasileiro de trinta e poucos anos, Eduardo Câmara, que vai trabalhar numa empresa de informática nos Estados Unidos. O romance, que tem cerca de 57 mil palavras, também cabe no que os escritores australiano e canadense, respectivamente, Terri Windling e Charles de Lint chamaram de "ficção mítica" -- por sugerir uma presença de elementos míticos na vida contemporânea, sem qualquer conotação de auto-ajuda ou esoterismo.

Sendo mulato claro, no Brasil Eduardo passava como branco, e por isso nunca teve dificuldade para ascender social e profissionalmente. Mas South River, a cidadezinha do norte da Califórnia em que Eduardo vai trabalhar, tem pouca paciência com a política racial brasileira, por ter a sua própria -- e lá Eduardo nunca passaria por branco.

Diante dessa tomada de consciência de uma situação étnica que ele não assumira antes, Eduardo passa a testemunhar a aparição de um rinoceronte, que surge nos momentos mais inesperados -- e com as suas próprias intenções. Esse é o elemento fantástico do romance, que passa a guiar Eduardo em uma série de situações que o levam não apenas a descobrir a sua identidade racial antes abafada, mas também a confrontar um problema ecológico vivido naquela região americana.

Ele conhece Jennifer Adams, uma determinada (e bonita) policial; Sasha Bailey, uma desorientada adolescente com problemas o tráfico de drogas; Seymour Bly, um desiludido intelectual negro -- e uma galeria de outros personagens, que inclui Gordon Kellner, o ambicioso diretor da empresa e um dos patronos da cidade.

Em paralelo à questão racial e ao problema ecológico, há também a descrição do mundo das corridas ilegais de rua, com o qual Eduardo também se envolve.

Apesar de relativamente curto, é um romance variado em seus temas e conotações, indo de questões de identidade racial e cultural, à defesa do meio ambiente e à revolução da economia informacional.

Causo escreve com clareza mas não se furta a momentos poéticos ou filosóficos, alternados com ação física e suspense.

"A Corrida do Rinoceronte", Roberto de Sousa Causo. São Paulo: Devir Livraria, 2006, 160 páginas. Arte de capa de R. S. Causo.

Leia um excerto de A Corrida do Rinoceronte!

Leia a página de agradecimentos de "A Corrida do Rinoceronte", e saiba mais sobre a criação do romance

"A Corrida do Rinoceronte" possui uma gênese múltipla.

Em 1990 ou 1991, sonhei com um rinoceronte. Foi um sonho que me causou profunda impressão, e minhas buscas em dicionários de sonhos não revelaram nada, de modo que a minha curiosidade inicial permaneceu viva ao longo dos anos. Em 1992, durante a 50a. Convenção Mundial de Ficção Científica, gravei uma entrevista com Bruce Sterling, em que ele desafiava os autores brasileiros a escreverem como brasileiros, mas em histórias ambientadas fora do país (fosse nos Estados Unidos ou em Marte). Ele falava de uma história de ficção científica, e não de fantasia contemporânea, mas neste caso os dois gêneros estão próximos o bastante, a meu ver. (Foi nas ruas de Orlando, a cidade em que se deu a convenção, que vi o Camaro Z/28 1969.)

Anos depois, possivelmente entre 1999 e 2000, tive uma conversa com o Prof. Lynn Mário Trindade Menezes de Souza, a respeito dos emblemas culturais e étnicos que carregamos conosco -- e que às vezes parecem nos ter como bagagem, e não o contrário. Enfim, em dezembro de 1996, em férias com a família em Santos, assisti a uma reportagem de telejornal sobre uma fêmea de rinoceronte-negro que escapou do zoológico de San Diego, Califórnia, e teve que ser sacrificada. A imagem do animal africano correndo entre automóveis e casas de subúrbio foi tão forte, que eu tinha que responder a ela, com uma narrativa de ficção. Uma reportagem sobre corridas de rua na revista "Car Craft: Do-It-Yourself Street Performance" me forneceu um dos panos de fundo para as aparições do rinoceronte. A história da antepassada que teria sido mucama da Princesa Isabel me foi contada por minha mãe, Maria Nirce, e faz parte da nossa história familiar, embora de modo tão nebuloso quanto o descrito aqui. A idéia de uma épica familiar que entra na composição da identidade de uma pessoa, eu sedimentei durante o curso de "Literatura e Diferença", conduzido pela Profa. Laura Izarra na Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo.

Alguns amigos me ajudaram com sugestões e revisões sobre os diversos aspectos do romance. M. Elizabeth "Libby" Ginway, professora de língua portuguesa e literatura brasileira junto à Universidade da Flórida em Gainesville, opinou sobre o meu tratamento da cultura americana -- e da cultura dos street rodders, já que ela também é uma aficcionada. Libby ainda me enviou um texto fundamental, sobre o rinoceronte como totem xamânico. Carlos Angelo, um programador de software básico e tradutor, fez sugestões pertinentes à tecnologia e à cultura informacional presentes na história. Os dois desviaram-se, para me ajudar, de outras atividades mais importantes do que opinar a respeito ou revisar o meu texto, e por isso eu lhes sou especialmente devedor. Minha esposa Finisia Fideli leu o primeiro rascunho e forneceu sugestões e as inestimáveis reações positivas que fazem a gente insistir num projeto como este.

Por fim, menciono ainda Douglas Quinta Reis e Silvio Alexandre, da Devi. Em especial o Douglas, que sempre mostrou entusiasmo por esta história.

-- Roberto de Sousa Causo